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Paramount, o bairro de Los Angeles berço dos protestos contra deportações v36b

À medida que os protestos contra as políticas migratórias de Trump crescem, os moradores de Paramount, onde 36% dos habitantes nasceram em outro país, estão reivindicando seu papel na comunidade. 4o155q

9 jun 2025 - 07h42
(atualizado às 13h47)
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Um dos moradores de Paramount que se reuniu diante dos membros da Guarda Nacional no domingo para mostrar seu repúdio
Um dos moradores de Paramount que se reuniu diante dos membros da Guarda Nacional no domingo para mostrar seu repúdio
Foto: Leire Ventas / BBC News Mundo / BBC News Brasil

"Vocês estão indo para a guerra, com todas essas armas?", pergunta um homem aos membros da Guarda Nacional que o observam imivelmente, com os rifles na mão, do outro lado do portão. 2q166c

Estamos em Paramount, no sul de Los Angeles, nos Estados Unidos, onde ocorreram confrontos no sábado (7/6) entre agentes do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE, na sigla em inglês) e um grupo de manifestantes que chegaram depois que se espalhou a notícia de que estavam ocorrendo batidas de deportação na área.

Distúrbios como este levaram o presidente americano, Donald Trump, a intervir após dois dias de protestos isolados contra as operações migratórias, ordenando o envio de 2 mil soldados para ajudar a "restaurar a lei e a ordem" na metrópole californiana.

"É uma medida que só vai aumentar a tensão", disse o governador da Califórnia, Gavin Newsom, que é democrata, antecipando o que aconteceria um dia depois no centro de Los Angeles, com centenas de manifestantes bloqueando os os, agentes tentando dispersá-los com gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral, e veículos em chamas.

"Vocês estão fazendo o seu trabalho, mas nós não somos o inimigo", grita o homem parado no portão para os soldados.

Talvez sua voz se destaque entre as dezenas de pessoas que se reuniram no domingo para deixar claro para a Guarda Nacional que sua presença não é bem-vinda.

Mas seu sentimento é amplamente compartilhado neste município de cerca de 51 mil habitantes, onde cerca de oito em cada dez são de origem latina — e 36% nasceram em outro país, de acordo com dados do Censo.

"Aqui só tem gente trabalhadora, porque este bairro foi construído por imigrantes", diz ele, enquanto outro vizinho agita a bandeira mexicana, dois jovens seguram faixas em protesto ao ICE e vários carros buzinam quando am.

Mais de 80% dos moradores de Paramount são de origem latina
Mais de 80% dos moradores de Paramount são de origem latina
Foto: Leire Ventas / BBC News Mundo / BBC News Brasil

'Há medo' 2534f

Como fazem todo fim de semana, três dos imigrantes que ajudaram a fazer de Paramount a cidade que é hoje, se encontram do outro lado da rua para conversar sobre a família e os acontecimentos atuais.

Posicionados em seus veículos de trabalho, a conversa de Juan, Rogelio e Héctor no último domingo se concentrou em como neste mesmo local, no estacionamento da loja Home Depot, a tensão entre manifestantes e agentes federais eclodiu no dia anterior.

"Parece que surgiu a informação de que eles estavam fazendo uma batida aqui mesmo", explica Juan, um mexicano de 63 anos que saiu de Jalisco, no México, para os EUA quando tinha 17 anos.

"E isso trouxe pessoas que, na confusão, acabaram causando distúrbios", explica.

Alguns manifestantes lançaram coquetéis molotov e pedras. Vidros foram quebrados, e um carro foi incendiado. Os policiais responderam com spray de pimenta e balas de borracha. A angústia e o medo tomaram conta do bairro.

A situação em Paramount foi caótica no sábado
A situação em Paramount foi caótica no sábado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em mensagem enviada à BBC, o Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) negou que o ICE tenha realizado operações na região no sábado.

Embora tenha informado que as batidas realizadas em Los Angeles na última semana detiveram 118 imigrantes em situação irregular — o mais duro golpe migratório contra esta cidade considerada "santuário" desde que Trump chegou ao poder com a promessa de realizar "a maior deportação da história do país".

Seja como for, os três amigos dizem estar tranquilos — "não temos nenhum problema, temos todos os documentos em ordem" —, embora reconheçam que há muitos vizinhos sem documentação que vivem com medo no contexto atual.

"É por isso que você não vê ninguém aqui hoje", acrescenta Juan, que ainda assim prefere não dar seu sobrenome. "Geralmente, embora mais durante a semana, você pode ver 20 ou 30 caminhonetes de trabalhadores diaristas esperando aqui para serem contratados", explica.

Pedro (pseudônimo) é um dos poucos diaristas que apareceram no domingo para oferecer trabalho em Paramount. Em sua caminhonete, ele guarda uma cápsula de gás lacrimogêneo que os agentes dispararam no sábado
Pedro (pseudônimo) é um dos poucos diaristas que apareceram no domingo para oferecer trabalho em Paramount. Em sua caminhonete, ele guarda uma cápsula de gás lacrimogêneo que os agentes dispararam no sábado
Foto: Leire Ventas / BBC News Mundo / BBC News Brasil

Um dos poucos que apareceram no domingo para oferecer trabalho foi Pedro, que pediu para ser identificado por um pseudônimo.

"Telhados, reparos, pintura", diz a placa que ele colou no para-brisa de sua velha picape azul, estacionada discretamente em uma esquina.

"A vida aqui é muito cara, e minha pensão não é suficiente", diz este salvadorenho que está nos EUA há cinco décadas, e que, aos 70 anos, já está na idade de se aposentar.

"É por isso que tenho que vir aqui todos os dias para sobreviver", diz ele.

Ele faz isso com a tranquilidade de ter regularizado sua situação migratória em 2000, mas não consegue evitar a angústia de ver seus vizinhos sofrerem.

Estas não são as primeiras manifestações organizadas em Los Angeles. A cidade foi uma das primeiras do país a sair às ruas com o retorno de Trump e sua agenda anti-imigração à Casa Branca.

No entanto, Pedro descreve os protestos dos últimos dias como um "momento de virada". "Há mais raiva, mais ira. Muitos estão saindo para protestar porque seus pais ou gerações anteriores aram por muito tempo nas sombras".

"Mas isso não vai acabar aqui. As batidas vão continuar. Está se tornando inviável com este presidente", diz ele, acrescentando que está pensando em voltar para El Salvador.

María Gutiérrez, que participou dos protestos em Paramount no sábado, disse: "Já era hora de acordarmos", diz. "Esse é o meu povo."

Nascida no México, ela conta à BBC que vive nos EUA desde criança, enquanto observa a Guarda Nacional e seus veículos militares do outro lado da rua, em um complexo comercial cercado.

"Todo mundo aqui tem um membro da família ou conhece alguém que não tem documentos".

'Comunidade vibrante' 6a1v50

Alguns vizinhos buscaram consolo e acolhimento diante da adversidade na igreja cristã que frequentam todos os domingos, a Chapel of Change, localizada a poucos metros da Home Depot e do cenário dos confrontos.

Cerca de 200 pessoas, a maioria famílias de origem hispânica, ouvem atentamente o sermão em que são convidadas a abraçar a fé.

"Aqui buscamos a unidade e oramos por todos", diz Irene Ramírez, uma das pastoras da igreja, à BBC News Mundo, serviço de notícias da BBC em espanhol. Ela descreve a comunidade como "vibrante, unida e voltada para a família".

A pastora Irene Ramírez e Dora Sánchez na frente da igreja Chapel of Change de Paramount
A pastora Irene Ramírez e Dora Sánchez na frente da igreja Chapel of Change de Paramount
Foto: Leire Ventas / BBC News Mundo / BBC News Brasil

O pastor principal da igreja, Bryan Worth, concorda.

"Ao longo dos anos, Paramount se tornou um município muito vibrante", diz ele à BBC.

"Na década de 1980, Paramount era conhecida por ser uma das piores cidades pequenas do país, mas os líderes cívicos, do setor de educação, e nós que estamos à frente das igrejas nos unimos para transformar a comunidade, para torná-la mais unida e mais pacífica em geral", ele destaca.

"Nunca pensei que as cenas que eles mostraram na TV aconteceriam aqui", lamenta Dora Sanchez, que ajuda na igreja.

"É tudo muito chocante", ela acrescenta.

As tensões entre manifestantes e agentes de segurança aumentaram no centro de Los Angeles na tarde de domingo
As tensões entre manifestantes e agentes de segurança aumentaram no centro de Los Angeles na tarde de domingo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Horas depois desta conversa, e com o ar da tarde, a tensão aumentou nas ruas do centro de Los Angeles, a algumas dezenas de quilômetros ao norte de Paramount.

E o atrito entre os governos federal e estadual se aprofundou.

Diante do apelo de Newsom para retirar a Guarda Nacional das ruas e das duras críticas dos governadores democratas, que enfatizam que a medida é "um abuso de poder alarmante", Trump permanece firme em sua posição.

"Multidões violentas e indisciplinadas assediam e atacam nossos agentes federais na tentativa de impedir nossas operações de deportação. Mas esses distúrbios ilegais apenas reforçam nossa determinação", escreveu ele na plataforma Truth Social.

"A ordem será restaurada, os imigrantes indocumentados serão expulsos, e Los Angeles será livre."

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