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Em 'As Aventuras de uma sa na Coreia', Hong Sang-soo investiga a incomunicabilidade 1m4rh

Isabelle Huppert estrela o filme do cineasta sul-coreano que tenta entender como o uso de outros idiomas pode ser um facilitador ou um complicador na forma de se relacionar 3t6i46

16 abr 2025 - 23h12
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Dá para dizer, até com certa tranquilidade, que As Aventuras de uma sa na Coreia é um filme menor do cineasta sul-coreano Hong Sang-soo. Em cartaz nos cinemas, o novo longa-metragem não chega perto das provocações de títulos como Certo Agora, Errado Antes ou, mais recentemente, A Mulher que Fugiu. Ainda assim, o filme é melhor do que muitos por aí ao propor uma reflexão: as barreiras naturais que existem na fala. 72e6f

De um lado, está a sa Iris (Isabelle Huppert), mulher que decide dar aulas de inglês na Coreia do Sul mesmo sem método, didática ou uma cartilha pedagógica. Faz tudo do jeito mais artesanal possível, bebendo um shot de uma bebida alcoólica local entre uma aula e outra. Do outro lado, estão os alunos que tentam se comunicar com a sa.

Em 'As Aventuras de uma sa na Coreia', a incomunicabilidade rege a história
Em 'As Aventuras de uma sa na Coreia', a incomunicabilidade rege a história
Foto: Pandora/Divulgação / Estadão

As Aventuras de uma sa na Coreia, assim, se revela como um filme sobre as dificuldades da incomunicabilidade. O inglês é a língua usada como padrão por essas pessoas - afinal, Iris não fala coreano, enquanto os locais quase não falam francês. Nesse terceiro idioma, muita coisa se perde. A comunicação se torna estática, atrapalhada, pouca fluída. O inglês pode ser entendido por todos, mas ainda assim, para Hong Sang-soo, não é compreensível. Como expressar ideias e sentimentos em uma língua que não é sua?

Emoções se perdem nas palavras estrangeiras e são, logo depois, afogadas na bebida. A vergonha de falar errado impede a comunicação. A paisagem grita por sentimentos, mas as palavras simplesmente não saem - não há, afinal, meios de se compreender totalmente. A música ou os olhares podem servir aqui e ali de escape, mas nunca são a linha final.

Conversas encavaladas 6i7065

Sang-soo tenta entender a linguagem não como algo se pode atravessar facilmente, mas como uma barreira que nem sempre pode ser transpostas. Mesmo para aqueles que dominam outra língua, os sentimentos não serão expressos da mesma forma. É o cineasta coreano chegando perto de reflexões que permearam toda a carreira do suíço Jean-Luc Godard, que sempre tentou entender as formas (e desafios) da linguagem.

Há, assim, algo potente a ser discutido neste novo filme de Sang-soo, um dos cineastas mais prolíficos em atividade - e que já mantém a marca de dois filmes novos a cada ano.

No entanto, há pouca inspiração aqui. Por mais que a estética do cineasta seja a mesma vista em seus filmes mais recentes, com bastante uso de zooms, o cineasta parece menos disposto aqui. Os acontecimentos se movem sem muita empolgação, sem a vontade de ir além na discussão. É como se o coreano levantasse os pontos centrais da incomunicabilidade, mas não fosse além em busca de questões mais fortes e profundas.

Lembra um pouco outro filme menor do coreano, A Câmera de Claire, também com Isabelle Huppert. Um filme de uma ideia só, bem provocada, mas que não consegue ir além dela.

A solidão também é tema de 'As Aventuras de uma sa na Coreia', mas falta potência
A solidão também é tema de 'As Aventuras de uma sa na Coreia', mas falta potência
Foto: Pandora/Divulgação / Estadão

Há quem diga que Sang-soo é assim: um cineasta de conversas encavaladas, discussões travadas e que gosta de perguntar, não de responder. De certa forma, é verdade. Mas é só ver alguns títulos que já estão alcançando o patamar de obra-prima da cinefilia, como O Dia Depois, O Hotel às Margens do Rio e os já citados Certo Agora, Errado Antes e A Mulher que Fugiu. Há uma provocação e, depois, ideias concatenadas, buscando provocar outros questionamentos. Já As Aventuras de uma sa na Coreia mantém-se em uma nota só.

Mas, de verdade, uma nota só de Hong Sang-soo é melhor do que muito do que chega aos cinemas hoje em dia.

Estadão
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