Flavio Silveira: Kwid E-Tech, sua última chance de ter um EV abaixo de 100 mil n6359
Renault Kwid E-Tech custa só 8 mil reais a mais do que o flex: como carro urbano é um excelente negócio (e pode ser tudo o que você precisa) 60694x
Quando chegou ao mercado, como todos os carros elétricos pioneiros, o Renault Kwid E-Tech era bastante caro: foi difícil achar quem toe pagar por ele R$ 149.990, praticamente o dobro do que ele custava com o tradicional motor flex. Afinal, pelo mesmo preço, na época, você comprava um sedã médio como o excelente Toyota Corolla. 61213a
Com a chegada de rivais como o BYD Dolphin Mini, o mesmo Kwid a bateria teve o preço reduzido a R$ 99.990 – e agora, prestes a ter significativas atualizações estéticas, – mas não mecânicas – tem unidades zero-quilômetro sendo vendidas a R$ 94.990. É hoje o carro elétrico mais barato do Brasil, sendo só 9,3% a mais que a versão flex equivalente, a Outsider, também com apelo visual SUV/aventureiro (R$ 86.590).
O preço atraente coloca o Kwid elétrico como uma opção interessante até mesmo para quem busca seu primeiro carro automático – sendo ele elétrico ou não. Está mais barato que compactos flex automáticos mais baratos do mercado, o Fiat Argo Drive 1.3 AT (R$ 102.990, em promoção por R$ 99.990) e o Citroën C3 You (R$ 103.690, em promoção por R$ 99.690). Ambos são um pouco maiores e mais potentes, é verdade, mas, no uso urbano, o Kwid elétrico, com torque instantâneo, é até mais ágil que eles.
Mas, de volta ao mercado de carros 100% elétricos, e desconsiderando os inferiores JAC e-JS1 e Caoa Chery iCar, o principal rival é o atual “queridinho do mercado”, o chinês BYD Dolphin Mini, que custa R$ 118.800 na versão de quatro lugares (como tem o Kwid).
Mas saiba que, apesar do “hype” em cima dos BYD, o Kwid E-Tech, além de ser de R$ 20 mil a R$ 25 mil mais barato que seu conterrâneo (apesar da marca sa, este Renault é feito na China), oferece algumas vantagens significativas em relação ao Dolphin Mini – e também, claro, algumas desvantagens.
No que o Kwid E-Tech é melhor que o Dolphin Mini? Primeiro, e mais importante, o Renault tem limpador/lavador traseiro (que fazem falta no BYD), e um estepe de verdade em vez do kit de reparo do rival (que não serve pra muita coisa). Além disso, a suspensão traseira do francês é mais bem acertada, enquanto a do BYD é mole demais e não se dá bem com os quase 1.300 quilos do carro (já o Kwid elétrico pesa menos de uma tonelada).
Por fim, o Renault tem porta-malas maior, com 290 litros (50 a mais que no BYD) e uma manutenção mais barata, pois tem peças compartilhada como Kwid nacional, enquanto o “golfinho” vai demorar a se nacionalizar de verdade. Por fim, tem excelentes 16,6 cm livres do solo, contra apenas 11 no rival, que raspa facilmente em obstáculos.
O Dolphin Mini, por outro lado, conquista em parte pelo hype da marca, em parte por oferecer coisas que são menos essenciais que um estepe ou um limpador, mas às quais as pessoas dão mais importância: bancos de couro (sintético), mais telas – quanto maiores, melhor –, faróis de LED e algumas “besteiras” como app do carro. Também pode, na versão mais cara, levar motorista e mais quatro ageiros. Já a potência e torque extras do BYD – 75 cv e 135 Nm, contra 65 cv e 113 Nm – não garantem desempenho melhor, justamente porque é bem mais pesado.
Com foco urbano, os dois são ágeis no 0-60 km/h, mas chegam a 100 km/h em quase 15 segundos e são limitados a 130 km/h de máxima. Uma vantagem inegável do Dolphin Mini é a autonomia (Inmetro) de 280 km (contra 186 km do Kwid), mas, dependendo do uso e de onde você recarrega, isso pode não fazer a mínima diferença.
O CARRO URBANO PERFEITO – SÓ QUE NÃO
O que torna um carro bom? A maioria dos Porsche ou Ferrari não se adequa ao meu uso diário. Falta espaço para as crianças e para as compras, o fundo raspa na entrada da garagem, frente e traseira estragam nas valetas do meu bairro cheio de morros. Já os SUVs híbridos da moda acomodam bem todo mundo, mas são grandes, e fica mais difícil disputar espaço com os motoqueiros, achar uma vaga ou entrar nas garagens dos prédios, cada dia mais apertadas. Enfim, cada família – e cada situação – tem seu carro perfeito.
Na minha realidade diária, o Renault Kwid E-Tech é quase o carro perfeito. Gasta pouquíssimo (9 km/kWh nas minhas condições, bem desfavoráveis) e não polui nem faz barulho em uma cidade que precisa muito de menos ruído e fumaça.
Com boa distância do solo e formato de SUV (balanços dianteiros e traseiros curtíssimos), ele encara valetas, lombadas e outros obstáculos do bairro sem medo – e encara sem titubear as ladeiras mais íngremes de São Paulo. Apesar da direção bastante lenta, é surpreendentemente ágil no trânsito e se encaixa em qualquer vão ou vaga.
Apesar do acabamento meio tosco, tem seis airbags, Android Auto e Apple CarPlay sem fio, e um porta-malas suficiente para levar as compras do mês. E ainda é discreto, ando-se por um “simples” Kwid e afastando os ladrões de celular e etc.
Assim, o Kwid elétrico é perfeito à minha realidade de segunda a sexta – e ainda fico liberado do rodízio de veículos da capital paulista. E dá tudo certo mesmo não tendo um carregador no prédio: há quatro eletropostos rápidos e 6 lentos a menos de 1,5 km de onde moro, e, apesar da autonomia limitada, costumo precisar carregar só uma vez por semana. Melhor e mais barato seria fazer isso em casa (o portátil que vem com ele basta pra encher a bateria em uma noite), mas, ainda assim, compensa.
Então, em vez de comprar um híbrido grande e pesado, ei a usar quase só o Kwid E-Tech na cidade, enquanto meu velho e bom Honda Civic a combustão descansa na garagem, para ser usado como segundo carro, e, claro, também onde ele faz mais sentido até que os próprios híbridos: pra viajar nos finais de semana e nas férias, sem preocupação com autonomia e recargas, gastando o mesmo tanto e andando mais – ou, no mínimo, mais prazerosamente e com melhor dinâmica – que na maioria dos híbridos plug-in por aí.
COMPRE AGORA OU…
Mas, como eu disse, em poucos meses chega o novo Kwid E-Tech, que vai seguir a mudança do europeu Dacia Spring, de quem sempre foi a “versão brasileira”. Com atualizações apenas estéticas, embora até substanciais, ele deve ficar mais caro. Não só pela adição de itens de tecnologia e conforto, mas pela já prevista retomada escalonada da tributação dos BEVs importados. Não deve subir muito, mas é pouco provável que o preço oficial se mantenha em R$ 100 mil. Deve aumentar ao menos uns 10%.
De qualquer modo, por menos de R$ 100 mil, o Kwid E-Tech ainda é uma excelente oportunidade para quem precisa de um primeiro carro (ou de um carro extra) para uso urbano ou entre capitais e cidades-dormitório, seja ele elétrico ou não. E, acima de tudo, é uma excelente porta de entrada para o mundo dos carros elétricos, e serve perfeitamente ao uso no cenário ideal para eles: a cidade. Uma bela combinação de city-car e SUV – sem luxo e longe de ser perfeito, mas que pode ser quase perfeito ao seu uso.
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