'Não vou me calar': jovem é demitida por usar tranças afro e denuncia racismo em AL 1l3p4n
Ex-chefe de Gabriela Barros alegou que ela não tinha o 'perfil social' para usar o penteado e a comparou com outra funcionária, que é branca 3x2o5u
Uma jovem de 21 anos publicou um vídeo nas redes sociais em que denuncia um caso de racismo sofrido em Maceió, capital de Alagoas. Segundo Gabriela Barros, ela foi demitida de uma empresa de consórcios após fazer tranças afro. A ex-chefe dela alegou que ela não tinha o "perfil social" para usar o penteado e a comparou com outra funcionária, que é branca. y950
Ao Terra, Gabriela conta que o racismo começou em novembro, quando ela aderiu às tranças pela primeira vez. Ela optou por um modelo discreto, justamente para evitar chamar a atenção da chefe, mas não adiantou --a mulher pediu a ela que se desfizesse do penteado. Como precisava muito do emprego, cedeu.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Em março, Gabriela voltou a aderir às tranças e, três dias depois, foi advertida. A chefe a chamou à parte e disse que ela tinha dois dias para se desfazer do penteado.
Segundo a chefe, as tranças faziam "estilo hippie", o que era incompatível com o perfil da empresa. Dessa vez, Gabriela optou por permanecer com o penteado. Dois dias depois, ela foi advertida novamente.
Gabriela tentou questionar a chefe sobre o motivo de não poder adotar o visual, argumentando que as tranças não representavam apenas uma questão estética e que o penteado fazia parte de sua ancestralidade. A mulher, então, respondeu que ela não precisava entender a proibição, apenas aceitá-la.
"Ela voltou a dizer que eu não poderia continuar na empresa se não me desfizesse das tranças. Falou que eu não tinha o 'perfil social' para usar o penteado, me comparando com uma pessoa branca", conta.
“Ela disse: 'Se a Fulana estivesse com a trança eu aceitaria, porque ela tem o perfil social. Você não tem'", acrescenta Gabriela, ressaltando que se vestia com roupas "formais" para ir trabalhar, então a ex-chefe não poderia estar se referindo a essa questão.
Gabriela foi demitida em 26 de março. Ela relata ter se sentido "constrangida", "triste" e "com medo" em meio a toda essa situação, mas que teve "muito apoio" das pessoas ao seu redor.
A jovem conta que, em novembro, quando a então chefe pediu a ela que se desfizesse das tranças pela primeira vez, cedeu à ordem porque tinhas muitas responsabilidades financeiras e precisava do emprego. Ela ainda necessita do dinheiro, mas agora entende que é importante levantar-se contra injustiças, especialmente em meio às críticas.
"Nenhum branco sofre racismo, nenhum branco sente essa dor na pele. Só nós, pessoas pretas, sabemos o que amos --os olhares, tudo. É muito fácil para um branco apontar o dedo e dizer que [a denúncia] é 'mimimi'", afirma.
"Apesar dos comentários negativos, recebi também muito apoio de pessoas que disseram ter ado por situações semelhantes, e é por essas pessoas que vou continuar lutando e não vou me calar. Sinto que dei voz a essas pessoas e quero que elas se sintam acolhidas", acrescenta.
Gabriela registrou um Boletim de Ocorrência contra a ex-chefe e denunciou o caso à Justiça do Trabalho. Ela deve prestar depoimento à Polícia Civil na próxima quarta-feira, 21.
O que diz a lei? 3c2i
Ao Terra, o advogado Pedro Gomes diz que uma demissão motivada pelo fato de um funcionário usar tranças afro é uma conduta discriminatória. Segundo ele, não há na legislação uma lei que permita às empresas intervirem em questões estéticas de um colaborador, a não ser que haja uma justificativa plausível. Um exemplo são funcionários que atuam com manipulação de alimentos e não podem deixar o cabelo solto durante o exercício do trabalho.
"No caso em que uma empresa entende que o mero uso de um penteado, como uma trança, é incompatível com o exercício de um trabalho dentro de um escritório, isso é uma conduta discriminatória", explica.
"A partir do momento em que se vê um penteado que é tipicamente associado à identidade negra, e a empresa entende aquilo como um cabelo incompatível com a seriedade de um trabalho, isso com certeza se configura como racismo", acrescenta.
Gabriela entrou com uma ação por danos morais e pede R$ 100 mil à empresa. Além disso, se condenada pelo crime de racismo, a ex-chefe da jovem pode pegar de dois a cinco anos de reclusão, além de multa.
O Terra procurou a ex-chefe de Gabriela para comentar o caso, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestações.