ACM Neto, Afroconveniência e eleições: nem todo pardo é negro 75065
É preciso discutir quem e o que é ser pardo no Brasil de 2022 6w5f1i
A sub-representação das camadas da população que foram vulnerabilizadas pelas desigualdades sociais continua sendo o maior trunfo das opressões estruturais. Sabemos que representatividade importa, mas, cada vez mais se faz necessário estabelecer os termos dessa representatividade e, principalmente, quem realmente está apto a representar quem e porque. É visível que as artimanhas do sistema de opressão para fragilizar esse instrumental de equiparação que tem por intenção principal nos conduzir a emancipação acertaram em cheio e se não voltamos à estaca zero, estamos muito próximo disso. 4u442j
O debate racial, de classe e de gênero, aos trancos e barrancos, obteve avanços que não serão mais recuados, sobretudo no que se refere à conscientização e, isso está devidamente pontuado no resultado dessas eleições (mesmo que estejamos rumo ao segundo turno).
Mas se por um lado tivemos o alívio da derrota de figuras irreversivelmente corrompidas pelos sistemas de opressão e dominação, como Sérgio Camargo, Fernando Holiday e Joice Hasselmann, por exemplo, e tendo eleito nomes bastante significativos como Érika Hilton, Guilherme Boulos, Renato Freitas, Carol Dartora, ainda assim, no que se refere a tão importante representatividade não avançou o suficiente e na melhor das hipóteses, mostrou que os discursos que exaltam sua importância perderam força.
A representatividade ainda importa, mas por não se situar corretamente na perspectiva da classe social para gerar uma efetiva mudança coletiva nas camadas historicamente excluídas, para além da mídia, já é vista com desconfiança. Há tempos a representatividade está apenas no âmbito da visualidade midiática, o que não é dispensável, mas é incompleta, já que está descolada da realidade do cotidiano das pessoas comuns e sendo pautada apenas por ganhos individuais isolados.
A negritude pobre das zonas periféricas cujo dia começa às quatro ou cinco da manhã, atravessando a cidade de um ponto a outro, para chegar ao trabalho, até tem uma resposta emocional e algum alimento para seu orgulho negro quando a mídia, (inexplicavelmente orgulhosa, já que em 2022 esse tipo de notícia é a vergonhosa reafirmação do privilégio branco) noticia o primeiro negro ou primeira negra a realizar algum grande feito ou ocupar algum lugar de destaque, majoritariamente branco, em qualquer área social.
Mas na sequência a emoção arrefece e a negritude diante da rotineira escassez e das sucessivas humilhações racistas do cotidiano se pergunta: o que isso muda na minha vida">Em outras palavras, é preciso discutir quem e o que é ser pardo no Brasil de 2022, onde a miscigenação continua sendo usada como instrumento de embranquecimento da população e, seus frutos, das mais diversas tonalidades, usados como elemento de desqualificação e descrença pública de todo debate sobre a condição do negro na atualidade. Nem todo pardo é negro e isso precisa ser entendido como parte fundamental do novo capítulo do debate racial no país.