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Ser sensual é ser Gal, a senhora da onipresença 53105c

Podemos dizer sem medo de ser clichê que Gal Costa era senhora de si, a própria mulher livre n126n

9 nov 2022 - 15h45
(atualizado às 16h34)
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Gal Costa morreu aos 77 anos
Gal Costa morreu aos 77 anos
Foto: Reprodução/Instagram

Se somos o que fazemos, pelo tamanho e imponência de tudo que realizou, podemos dizer que Senhora Gal Costa, nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, trouxe para o cenário musical duas características fundamentais da sua personalidade sofisticada: a força estranha e a sensualidade irrefreável. Sempre ouvi referência à sensualidade natural da Gal Costa. Crescendo entendi do que se tratava. Gal foi símbolo de sensualidade no sentido estrito da palavra: a capacidade de compreender, trabalhar e transmitir o sentido real das coisas. É um poder cada vez mais raro. Pessoas sentem, somos movidos a sentimentos e sensações. Mas não percebemos, nem entendemos e, frequentemente, evitamos assumir, compreender e expressar o que sentimos. Daí somos menos do que poderíamos ser.  3m5j4p

São esses dois traços de personalidade que costuma-se atribuir a mulheres pessoalmente poderosas e que as fazem ser também muito temidas e evitadas. 

E essa era a provocação fundamental contida na pessoa de Gal Costa, a denúncia de uma contradição da sua existência: se o mundo não gosta de mulheres pessoalmente poderosas, como Gal Costa conseguiu se consolidar como figura única, fundamental e, portanto, poderosa para além dos limites da sua arte">Do mesmo modo que duas décadas antes, em 1967, no festival da Record, disse também com a voz, o corpo e a alma que não tínhamos tempo de temer a morte. Dissipou o medo e preparou a aura rebelde que lutou pelas “Diretas Já”. Isso é ser sensual. 

Como pessoa pública, Gal Costa jamais permitiu que invadissem sua vida, sua intimidade
Como pessoa pública, Gal Costa jamais permitiu que invadissem sua vida, sua intimidade
Foto: @galcosta

Agora, em 2022, não titubeou e nem recuou do lugar de autoridade para apoiar a recondução do Brasil para os caminhos da democracia. Força estranha. Sensualidade irrefreável. Talvez por isso seduzia tão distraidamente que ninguém percebia direito quando e como, mas, de repente, já estava fisgado pela sua onipresença. Isso tem uma importância tão grande para os tempos atuais, em que temos muito discurso de independência e emancipação, mas estamos sempre presas ao olhar e achismo do outro, limitadas pelo medo da política do cancelamento, reduzidas pelas disputas e competições por protagonismos vazios de significado mas cheios de armadilhas sociopolíticas. 

Mulheres da geração da Gal Costa não precisavam se dizer lutadoras pró-liberdade feminina. Elas inclusive questionaram esse “feminino essencial”, tão limitador. Muitas sequer chegaram a pensar no significado da palavra feminismo, mas todas, inclusive Gal Costa, subverteram os lugares pré-estabelecidos e se posicionaram onde quiseram. Viveram suas liberdades individuais com tamanha despretensão que devemos tomá-las como estudo de caso ou aulas naturais de como contrariar as estruturas sem fazer muito alarde e sem cair em suas armadilhas predatórias. 

Gal Costa ensinou a toda e qualquer pessoa que quis aprender que ser sensual, para além da aparência, dos trejeitos, da voz de veludo é expressar todas as ideias, sensações e sentimentos que o corpo e a existência permite, sem contrariar o que o nosso DNA pessoal estabeleceu, mas sem se curvar totalmente diante do que ele pautou. No caso dela, sendo doce e bárbara, rebelde e despretensiosa ao mesmo tempo. Ser sensual é não se reduzir a um só lugar, não parar no tempo e nem maldizer sua agem com discursos de aceitação que denunciam nas entrelinhas conflitos internos e amarguras pela força dele que é superior a nossa, como tem sido feito na onda anti-etarismo. Gal Costa foi tão livre que sequer envelheceu.

Ser sensual é não itir e nem se encaixar em rótulos e lugares. É não precisar de discursos por emancipação e, sim, vivê-la em tempo real. Sem pedir licença e nem se justificar por ser ou ter sido. Ser sensual é ser Gal.

Fonte: Redação Nós
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