Paulo Cupertino, réu por matar o ator Rafael Miguel, é condenado a 98 anos de prisão 5a2s12
Empresário foi considerado pelo Tribunal do Júri culpado pelas mortes do ator e dos pais dele, em junho de 2019 1yf52
O empresário Paulo Cupertino, réu pelo assassinato do ator da novela Chiquititas, Rafael Miguel, e dos pais dele, em junho de 2019, foi condenado pelo Tribunal do Júri à pena de 98 anos de reclusão em regime fechado por triplo homicídio. A sentença foi anunciada nesta sexta-feira, 30, após um julgamento de dois dias, realizado no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. 3q5m4m
Os jurados acolheram a versão do Ministério Público (MP), que acusou o empresário de matar com 13 tiros Rafael, de 22 anos, e seus pais, o casal João Alcisio Miguel, de 52, e Miriam Selma Silva Miguel, de 50. Segundo o MP, representado pelo promotor Thiago Alcocer Marinpelo, Cupertino não aceitava o namoro da filha, Isabela Tibcherani, então com 18 anos, com o ator.
O empresário foi julgado por homicídio doloso com duas qualificadoras: crime cometido sem chance de defesa das vítimas e por motivo fútil. Durante o depoimento, Cupertino negou a autoria dos crimes. A defesa dele informou que se manifestará apenas nos autos do processo.
Cupertino já estava preso no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos II desde 2022. Após o crime, ele fugiu e foi encontrado três anos depois, em um hotel, com uma identidade falsa.
Réus no mesmo processo, Eduardo Machado, de 45 anos, e Wanderley Ribeiro Senhora, de 59, acusados de ajudar o empresário na fuga, foram absolvidos.
O Conselho de Sentença, formado por sete jurados, entendeu que os três homicídios foram qualificados por motivo torpe e pelo uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas.
Na dosimetria da pena, dada pelo juiz Antonio Carlos Pontes de Souza, as circunstâncias agravantes e atenuantes também foram consideradas.
"As circunstâncias do crime também item a majoração da pena base, uma vez que a forma de execução do delito é mais grave do que aquele previsto no preceito secundário do delito", afirmou o Souza, na sentença.
"Isso porque", continuou o juiz, "o crime foi cometido na presença da filha do réu, namorada e nora das vítimas e agravado pela imediata fuga, por anos, do distrito da culpa, valendo-se de documento falso e outra identidade",
O magistrado citou também as consequências psicológicas sofridas pelas duas famílias - a das vítimas, como a do réu - como justificativa para a majoração da pena.
O julgamento teve início na manhã de quinta-feira, por volta das 11 horas, e se estendeu até o fim da noite, com os depoimentos das testemunhas e o interrogatório dos réus.
Na manhã desta sexta-feira, 30, a sessão foi retomada por volta das 10h30 com os debates entre acusação e defesa, incluindo réplica e tréplica. Após a votação dos quesitos pelos jurados, realizada em sala secreta, a sentença foi proferida pelo juiz às 20h30.
Relembre o caso 6t6p3z
As vítimas foram alvejadas na porta da casa de Cupertino, no bairro Pedreira, zona sul da capital paulista. Eles tinham ido ao local para conversar com o empresário sobre uma possível conciliação sobre o relacionamento dos filhos.
Momentos antes do crime, Isabela tinha brigado com o pai e se refugiado na casa de Rafael e dos sogros. Sabendo que o empresário procurava pela filha, os pais do ator a levaram para a casa de Cupertino.
Ao chegarem no local, o empresário puxou a filha para dentro e retornou à porta com a arma em punho, efetuando diversos disparos contra Miriam, Rafael e João, que não resistiram.
Paulo Cupertino fugiu e se encontrou em Sorocaba, interior de São Paulo, com o amigo Wanderley, que o ajudou a fugir do Estado. Eduardo também ajudou na fuga, emprestando dinheiro e comprando agem para que o empresário fugisse para Ponta Porã (MS).
O Ministério Público ofereceu a denúncia em 16 de junho de 2020 e o mandado de prisão foi expedido em 19 de junho de 2020. Paulo Cupertino permaneceu foragido até que foi capturado em 16 de maio de 2022 em um hotel de São Paulo, com uma identidade falsa.
Com ele, foram encontrados chapéus, tintas de cabelo e lentes de contato que, segundo a polícia, o procurado usava para se disfarçar.
Preso no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos II, Cupertino deveria ser julgado em outubro do ano ado, mas conseguiu anular o julgamento depois de destituir o seu advogado. Por esse motivo, o juiz Antônio Carlos Pontes de Souza, na ocasião, suspendeu a sessão.
'Só vai namorar depois dos 30, se eu deixar' 573t63
Antes da suspensão do julgamento, Isabela Tibcherani Matias e sua mãe, Vanessa Tibcherani de Camargo, prestaram depoimento na sessão. Na época, elas relataram que viviam um relacionamento familiar conturbado em que Cupertino era possessivo e agressivo em relação às duas mulheres.
Na ocasião, a mãe afirmou que ele era agressivo e batia nela. Isabela disse que o pai sempre a tratou de forma diferenciada em relação ao irmão. Depois que ela começou a namorar, ele se tornou mais agressivo e a proibiu de se relacionar com Rafael ou outro garoto.
Segundo o depoimento, o pai monitorava o celular de Isabela e a proibia de sair de casa. Quando a promotora Soraia Bicudo Simões Munhoz perguntou quanto tempo ela ficou sem sair de casa, Isabela respondeu: "Oito meses, sem contato, sem celular, sem convívio com outras pessoas, só dentro de casa."
Ela pedia o celular da mãe para falar com o namorado. Isabela contou ainda que o pai falava, em conversas com conhecidos: "Você só vai namorar depois dos 30, se eu deixar."
O relacionamento entre Isabela e Rafael durou pouco mais de um ano. A jovem deu detalhes sobre o que seria seu último encontro com ele. Ela saiu de casa para se encontrar com o namorado em uma praça, mas viu o carro do pai chegando e não quis voltar para casa. "Eu estava abalada, nervosa, chorava muito", disse.
No depoimento, a filha chegou a se referir ao pai como "réu". "Nossa relação (com o pai) era algo que me deixava aflita", disse. O casal decidiu ir à casa dos pais de Rafael mas, chegando lá, foram convencidos a ir até a casa de Cupertino para esclarecer a situação.
Ela conta que, quando chegaram, Rafael foi abrir a porta e se deparou com o pai de Isabela. "Ele não falou nada e me puxou para dentro e fechou o portão de maneira agressiva.
A mãe do Rafael perguntou: 'você que é o pai de Isabela?' ele respondeu: 'Não, eu sou a mãe'. Quando o Rafael falou, 'vamos conversar', ele disse: 'conversar nada'. Segurou o portão, eu já estava dentro (da casa). A partir daí só ouvi os disparos. Foram muitos disparos."
Isabela contou que, quando os tiros cessaram, viu o corpo de Rafael sobre o corpo da mãe dele, perto do carro. O corpo do pai de Rafael estava no meio da rua.
