Opinião: Janja receber a maior honraria cultural do país é injustificável 3m16u

Abro a lista das pessoas que receberão a Ordem do Mérito Cultural, a maior honraria pública do setor cultural brasileiro, e quase caio de costas ao encontrar o nome de Rosângela Lula da Silva, a Janja, primeira-dama do Brasil. 3b512b

Conferi novamente a lista, era ela. E agraciada na principal categoria, de “Grã-Cruz”. Janja figura entre 111 nomes da estatura de Zezé Motta, Leci Brandão e Fernanda Torres. Isso para citar algumas mulheres. Entre os homens, Alceu Valença, Arlindo Cruz e Walter Salles.

Dei risada lendo a lista, que tem três colunas: o nome de batismo da pessoa homenageada, o nome artístico e o tipo de premiação. De Janja, naturalmente, não há nome artístico, só um espaço em branco.

A premiação é ainda mais risível quando lemos a pequena biografia de artistas homenageados, que merecem algumas poucas palavras na lista do ministério da Cultura, porque dispensam apresentações, como Beth Carvalho e Ney Matogrosso.

A minibio de Janja, também curta, está entre as mais longas, um primor de tentativa de justificar o injustificável. “Janja Lula da Silva é socióloga e primeira-dama do Brasil, com atuação destacada em causas sociais, direitos das mulheres e combate à fome. É também engajada na promoção da cultura e da participação popular.”

Percebeu a forçada de barra? A primeira parte da apresentação da primeira-dama, todos conhecem, e tem seus inúmeros méritos, mas não culturais – a não ser em uma concepção muito, mas muito elástica de cultura, que ainda assim, não é do tipo que a Ordem do Mérito Cultural premia, a cultura como sinônimo de atividade artística.

A segunda parte é a melhor, sobre Janja ser engajada na cultura e na participação popular. Apesar de até o reino mineral desconhecer esse engajamento, que pode até existir, não tem um milímetro da relevância e da estatura das outras premiadas e premiados. Nem aqui, nem na China.

A cerimônia de premiação acontece nesta terça-feira (20/05) no Palácio Gustavo Capanema, símbolo da arquitetura modernista, fechado há 10 anos, agora reformado. A premiação será dada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pela ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Além de injustificável, fico pensando no quanto o governo Lula é inocente, e toma pau da imprensa porque pede para apanhar. Têm sido citadas as dificuldades de comunicação do atual governo, que não consegue mostrar o que estaria fazendo. Pode até ser, mas o que mostra expõe a vaidade, o compadrio, o trato personalíssimo da coisa pública.

Antes de terminar este texto, enviei mensagem a uma fonte homenageada, que estava dentro do evento. A pessoa merece, estava imensamente feliz, me mandou foto da pulseirinha de entrada. Comentei sobre a premiação de Janja. “Que decepção”, respondeu.