Crianças são mais vulneráveis a infecções graves, diferentemente do que sugere post antivacina 3m1m6l
SISTEMA IMUNOLÓGICO AINDA ESTÁ EM FORMAÇÃO NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA, POR ISSO IMUNIZAÇÃO É ESSENCIAL; ESPECIALISTAS ENFATIZAM QUE SAÚDE INFANTIL ESTÁ MELHOR HOJE EM RAZÃO DAS ALTAS COBERTURAS VACINAIS 3t2c2a
O que estão compartilhando: postagem no Instagram questiona: "Se as crianças correm menos risco de pegar uma doença… por que a obsessão com imunização infantil?". Na legenda, o autor do post, reconhece que as vacinas ajudaram a reduzir doenças. "Mas há outros fatores que explicam a melhora na saúde das crianças nos últimos 100 anos: saneamento básico, o a alimentos, redução da pobreza", argumenta. 21m58
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso que crianças corram menos risco de pegar doenças. Pelo contrário, especialistas consultados pelo Verifica explicam que o sistema imunológico — que protege o corpo de agentes estranhos como vírus e bactérias — ainda está em desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Por isso, crianças têm maior risco de pegar infecções graves, de ter complicações ou até mesmo morrer quando não estão imunizadas. Os estudiosos enfatizam que a saúde dessa faixa etária está melhor hoje em razão das altas coberturas vacinais.
Questionado pelo Verifica, o autor da postagem, o médico Francisco Cardoso, afirma que seu post não desestimula a vacinação em nenhum grupo. "Reitero que a melhora na saúde infantil nas últimas décadas deve-se, em grande parte, às vacinas, mas também a avanços em nutrição, saneamento e cuidados médicos", disse.
Saiba mais: O conteúdo verificado aqui foi publicado na última semana no Instagram de Francisco Cardoso. O médico tem mais de 400 mil seguidores no Instagram e foi desmentido por outras checagens. Por exemplo, o Verifica mostrou que Cardoso enganou ao associar sintomas da covid longa às vacinas, e ao dizer que a nota técnica que incluiu o imunizante contra coronavírus no Calendário Nacional de Vacinação Infantil era "opinativa".
A postagem questionando a imunização infantil recebeu mais de quinhentos comentários, incluindo conspirações de "extermínio" por meio de vacinas e associações entre imunização e ataques cardíacos ou mortes súbitas em jovens.
Na legenda da postagem, Cardoso reconhece que vacinas são importantes para combater doenças. "Mas há outros fatores que explicam a melhora na saúde das crianças nos últimos 100 anos: saneamento básico, o a alimentos, redução da pobreza", diz ele.
Mas, segundo a Organização Panamericana de Saúde (Opas), fatores como boa higiene, saneamento e o à água potável não são suficientes para deter doenças infecciosas. Muitas dessas doenças se propagam independentemente desses fatores. A organização alerta que, se as taxas de imunização coletiva caírem, as doenças preveníveis por vacinas podem voltar.
Evidência disso, como observou a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Ana Escobar, foi o surto de sarampo em 2018. Alguns anos antes, o sarampo havia sido banido das doenças existentes no Brasil, mas então houve a queda da cobertura vacinal. O país só se livrou novamente da doença cinco anos depois.
Escobar enfatiza que tirar a proteção das vacinas seria um retrocesso, pois diversas doenças graves são raras, hoje, por conta da imunização. "Difteria, pólio, sarampo, coqueluche, rubéola congênita, tudo isso diminuiu muito a incidência (graças às vacinas). A gente não vê mais", afirmou a professora. "E são doenças que têm complicações gravíssimas em crianças e em toda a faixa etária".
De acordo com o infectologista e representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) no estado do Rio Grande do Sul Paulo Ernesto Gewehr, fatores como higiene, nutrição e o o à cuidados de saúde não substituem a vacina. Gewehr confirma que a saúde das crianças hoje está melhor em razão de altas coberturas vacinais.
"Deixar de vacinar baseado nessa melhora seria como apagar o alarme de incêndio porque ele ainda não tocou", explicou. "Então, a vacinação é preventiva, segura e essencial para manter as conquistas de saúde pública que nós alcançamos nas últimas décadas".
Crianças não são o grupo com menor risco de pegar doenças
Ao contrário do que afirma a postagem analisada aqui, as crianças são as mais vulneráveis, e por isso precisam da proteção das vacinas.
"As crianças, especialmente as menores de 5 anos, têm o maior risco de adquirir infecções graves e de evoluir com complicações ou morte quando não estão vacinadas", afirmou Paulo Ernesto Gewehr.
Gewehr explica que a maioria das mortes por doenças que podem ser prevenidas com vacinas ocorre justamente nessa faixa etária. Isso se deve principalmente à imaturidade do sistema imunológico infantil, que ainda está em desenvolvimento nos primeiros anos de vida.
"Nesse sentido, a vacinação na infância é uma das principais estratégias de saúde pública com vistas a diminuir a mortalidade infantil e proteger individualmente a criança, reduzindo o surto [de doenças]", concluiu o infectologista.
Em mais detalhes, a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) Denise Morais da Fonseca afirma que crianças têm menor risco de desenvolver doenças cardiovasculares, metabólicas, certos tipos de câncer e autoimunidade. Além disso, os pequenos correm grande risco de adoecimento por patógenos de natureza infecciosa, como vírus e bactérias.
"Essa susceptibilidade, em parte, se dá por causa do estado do sistema imunológico: na criança, o sistema imunológico ainda está em fase de amadurecimento e ainda está sendo "instruído" sobre como responder ao patógenos", explicou Fonseca.
A professora observa que o sistema da criança precisa aprender tanto a combater agentes como vírus, bactérias e parasitas quanto a "tolerar" o meio externo benigno, como é o caso dos componentes presentes na alimentação.
"Por isso, as vacinas são fundamentais, pois instruem o sistema imunológico a desenvolver as respostas adequadas", fechou a professora.
