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Da periferia ao título de mestre: a trajetória de aluno que viralizou ao se formar ao som de Racionais 2o1h4s

Marcos enfrentou dificuldades para conseguir alcançar o sonho de se tornar engenheiro mecânico e segue na batalha para trabalhar na área m1h28

16 set 2023 - 05h00
(atualizado em 20/9/2023 às 15h59)
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Vídeo de jovem recebendo diploma ao som de Racionais MCs volta a viralizar: 'Ato de resistência':

"A educação é um ato de resistência". É assim que Marcos Fernando da Silva Junior, de 34 anos, descreve o que o incentivou a se tornar mestre em Engenharia Mecânica. Nascido no interior do Rio Grande do Sul, o vídeo da graduação dele, de 2017, voltou a viralizar nos últimos dias. Na ocasião, ele recebeu o diploma ao som da música A Vida é Desafio, dos Racionais MC's.  561ys

"Sou um menino jovem, negro, periférico, de origem humilde, pobre. Sempre tive bastante dificuldades durante minha trajetória até me formar", conta Marcos. Ele relembra o começo de sua jornada no SENAI, por meio do projeto "Novos Horizontes". Este programa tinha como objetivo integrar jovens em situação de vulnerabilidade, fornecendo-lhes oportunidades para um futuro melhor. Na época, ele também cursava o Ensino Médio.

"Não havia muitas oportunidades em meu bairro. Não via uma representatividade que realmente pudesse me inspirar ali. Tu via muito mais coisas que te levavam para um caminho errado com facilidade do que realmente ter o a algo que faça tu prosperar", diz Marcos, que foi criado no município de Rio Grande, no bairro São Miguel. 

O engenheiro mecânico Marcos Fernando
O engenheiro mecânico Marcos Fernando
Foto: Arquivo Pessoal

O engenheiro mecânico conta que seus pais desempenharam um papel muito importante em sua jornada, proporcionando-lhe o apoio e o estímulo necessários para correr atrás de uma educação superior e escapar das limitações de sua realidade na periferia. E, quando adolescente, ele encontrou um caminho para isso no SENAI, onde aprendeu sobre mecânica e resolveu que queria seguir a profissão de engenheiro mecânico. 

Graduação e mestrado lq14

Formado pela Universidade Anhanguera de Rio Grande (RS), Marcos relata que se graduou através do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior. 

No entanto, ele enfrentou muitos desafios ao cursar uma instituição de ensino particular, o que o levou a uma realidade completamente distinta da sua origem humilde e periférica. Enquanto perseguia seu sonho educacional, ele relata que se deparou com um choque cultural. 

Esse contraste contínuo entre sua vida e a dos colegas de classe o deixava em constante reflexão sobre como era difícil conciliar o estudo e o trabalho. Ao Terra, ele afirma que a jornada de equilibrar ambos era desafiadora, envolvendo sacrifícios, incluindo longas jornadas que começavam às 5 da manhã para trabalhar, seguidas por horas na universidade e a espera pelo transporte público até tarde da noite. 

"Eu consegui ser aceito na universidade federal também, só que no momento eu não tinha como estudar lá porque o curso era durante o dia. E durante o dia eu trabalhava, então eu não conseguia. Ou eu parava de trabalhar ou eu estudava. Não tinha como deixar de trabalhar, eu não tinha dinheiro para o básico. E aquele clima da universidade particular era completamente fora da minha realidade. Eu presenciei pessoas que gastavam, por exemplo, em uma festa, o que eu ganhava no mês inteiro", relata. 

O engenheiro também relata episódios de racismo e conta que enfrentou dificuldades práticas, como as lutas diárias para ar o transporte público. Para contornar essas situações, ele teve que desenvolver suas próprias estratégias de sobrevivência, aprendendo a escolher horários específicos e estratégias para garantir sua segurança e retorno para casa.

"Eu sempre notava o olhar diferente, sabe? Do tipo: 'O que ele está fazendo aqui?'. Quem sofre sabe que é um jeito de te excluir, de te deixar de fora de algum jeito, de te oprimir. Eu lutei contra isso no meu interior todo tempo. Por exemplo, quando eu saía da faculdade, eu tinha que pegar ônibus. E eu moro no Rio Grande do Sul, um dos estados mais racistas do país, e aí, dependendo do horário, o ônibus não parava pra mim. Se eu estivesse sozinho na parada, não parava. Eu posso afirmar que eu sofri na pele muita coisa e ainda sofro até hoje. É uma coisa que machuca muito", destaca. 

A música 'A Vida é Desafio', dos Racionais MC's, escolhida por ele para tocar em sua colação, fala sobre o preconceito e as desigualdades sofridas por pessoas pretas e das comunidades periféricas no Brasil. De acordo com Marcos, a letra tem ligação com sua trajetória. 

“Esse é um dos motivos da música dos Racionais na minha colação. Porque foi um pouco da minha trajetória. A música foi um grito para expor aquela situação. Eu consegui, mas eu batalhei muito para isso, e quero que outras pessoas possam conseguir de forma mais igualitária. Imagina quantos pretos não têm a oportunidade de se formar">Através de sua própria jornada educacional, ele busca ainda promover projetos de inclusão também para pessoas com deficiência. Seu trabalho de conclusão de curso (TCC) em automação foi direcionado para a criação de uma bancada automatizada, projetada para se ajustar às necessidades das pessoas com deficiência. Marcos planeja divulgar esse trabalho para angariar fundos e continuar a desenvolver o projeto. 

Trabalho de Marcos de conclusão de curso (TCC) em automação foi direcionado para a criação de uma bancada automatizada, projetada para se ajustar às necessidades das pessoas com deficiência
Trabalho de Marcos de conclusão de curso (TCC) em automação foi direcionado para a criação de uma bancada automatizada, projetada para se ajustar às necessidades das pessoas com deficiência
Foto: Arquivo Pessoal
Fonte: Redação Terra
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