A frieza do presidente da África do Sul diante de 'armadilha' de Trump na Casa Branca 1028m
Gary O'Donoghue, da BBC, analisa como o presidente sul-africano reagiu em uma reunião extraordinária no Salão Oval. 2f3623
Três meses após o segundo mandato de Donald Trump, os líderes estrangeiros devem estar cientes de que uma cobiçada viagem ao Salão Oval da Casa Branca traz o risco de uma repreensão pública, muitas vezes descambando em tentativas de provocação e humilhação. 4q152b
O episódio de quarta-feira (21/5) com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, foi um típico exemplo, com o toque adicional de uma emboscada envolvendo o desligar de luzes, uma longa exibição de vídeo e vários recortes de notícias.
Enquanto as câmeras de televisão filmavam, e após uma discussão acalorada, Trump foi questionado por um jornalista sobre o que seria necessário para convencê-lo de que as alegações de "genocídio branco" na África do Sul são falsas.
Ramaphosa respondeu primeiro, dizendo que o presidente teria que "ouvir as vozes dos sul-africanos" sobre o assunto. Trump então entrou e pediu a um assistente que "apagasse as luzes" e ligasse a televisão, para que ele pudesse mostrar ao líder sul-africano "algumas coisas".
Elon Musk, seu conselheiro e bilionário nascido na África do Sul, observava em silêncio atrás de um sofá.
O que se seguiu foi uma avalanche extraordinária e altamente coreografada de acusações do presidente dos EUA sobre a suposta perseguição de sul-africanos brancos, que lembrou o tratamento agressivo dado ao líder ucraniano Volodymyr Zelensky durante sua visita à Casa Branca em fevereiro.
As imagens no telão mostravam agitadores políticos sul-africanos entoando "Atire no Boer", uma canção antiapartheid.
E Trump, tantas vezes crítico da mídia, parecia feliz em exibir imagens de procedência incerta. Questionado sobre onde ficavam os supostos túmulos de fazendeiros brancos, ele simplesmente respondeu: "África do Sul".
O líder americano também parecia acreditar que os líderes políticos nas imagens — que não fazem parte do governo — tinham o poder de confiscar terras de fazendeiros brancos. Mas eles não têm.
Embora Ramaphosa tenha assinado um projeto de lei controverso permitindo apropriações de terras sem indenização no início deste ano, a lei não foi implementada. E o sul-africano se distanciou publicamente da linguagem usada nos discursos políticos exibidos.
Mas o presidente da África do Sul, que foi um grande aliado de Nelson Mandela e negociador que ajudou a pôr fim ao regime de apartheid da minoria branca chegou preparado à reunião.
Às vezes, Trump parece desconhecer os esforços feitos por líderes estrangeiros para agradá-lo, e isso claramente fazia parte da estratégia sul-africana.
Donald Trump é fanático por golfe, e Ramaphosa inovou na diplomacia ao levar dois grandes golfistas — Ernie Els e Retief Goosen — para uma reunião sobre problemas diplomáticos e política comercial. Isso não está em nenhuma cartilha sobre relações internacionais que eu conheça.
A satisfação do presidente dos EUA em ter os dois golfistas brancos sul-africanos ali ficou evidente para todos.
As intervenções dos golfistas sobre o destino dos fazendeiros brancos tiveram quase tanto tempo de tela quanto o presidente democraticamente eleito da África do Sul, que se restringiu em grande parte a intervenções curtas e silenciosas.
A presença deles provavelmente agradou Ramaphosa. Os golfistas, juntamente com seu ministro da Agricultura, branco, ele próprio de um partido de oposição que faz parte do governo de unidade nacional, estavam lá pelo menos em parte como um escudo - uma espécie de "domo de Ouro" diplomático, por assim dizer. E isso deu certo.
Trump voltou repetidamente à questão da situação dos agricultores — dezenas dos quais ele acolheu nos EUA como refugiados. Mas o presidente Ramaphosa não se deixou abalar e as provocações foram em grande parte deixadas no ar.
Em determinado momento, ele se referiu aos golfistas e a um bilionário africâner que havia se juntado à sua delegação, dizendo a Trump: "Se houvesse genocídio de fazendeiros africâneres, posso apostar que esses três cavalheiros não estariam aqui".
Mas mesmo que o presidente Trump não tenha conseguido irritar o presidente sul-africano, isso não significa que seus esforços, que duraram mais de uma hora, foram em vão; certamente não foram.
Esse estilo performático de diplomacia é voltado tanto para o público americano quanto para o visitante do Salão Oval.
O ponto central do projeto Make America Great Again (MAGA) é manter a energia em torno de queixas e ressentimentos do eleitorado, e o presidente Trump sabe o que seus apoiadores querem.
Se alguns líderes estrangeiros estão aprendendo a navegar nesses momentos com habilidade, Donald Trump pode ter que mudar um pouco o manual para continuar a ter o impacto que deseja.