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O que Porto Alegre fez para não ser inundada pelas chuvas? Desastre pode se repetir? 2i2d4s

Cidade colapsou em 2024 após sistema anticheia falhar. Prefeitura cita mais de R$ 240 milhões em obras; Estado e União também dizem investir x2v3h

30 abr 2025 - 20h27
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BRASÍLIA - A cada novo temporal de grande porte, Porto Alegre renova a tensão diante do trauma: qual é a chance de a capital gaúcha entrar em colapso como ocorreu há um ano, quando o aeroporto, hospitais e bairros inteiros foram engolidos pela correnteza? Foram feitas as adaptações do sistema antienchente para que a tragédia não se repita?

Na região da Avenida Mauá, muro não foi suficiente para conter o avanço das águas
Na região da Avenida Mauá, muro não foi suficiente para conter o avanço das águas
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

O risco continua. Especialistas afirmam que as soluções de engenharia adotadas pelo poder público vão na direção correta, mas ainda são insuficientes para livrar a cidade de catástrofe em caso de tempestade. Para os pesquisadores, é preciso um plano de emergência para ser acionado até que todas as mudanças estruturais sejam concluídas.

Além disso, é preciso rever a capacidade das estruturas ao longo dos anos, pois eventos climáticos extremos ficarão mais frequentes e intensos com o aquecimento global.

A prefeitura de Porto Alegre afirma ter investido mais de R$ 240 milhões em obras de melhoria e recuperação no complexo. Estado e União também dizem direcionar recursos para a ampliação da estrutura antienchente (leia mais abaixo).

Em maio do ano ado, o nível do Guaíba chegou ao pico de 5,35 metros, ultraando a cheia histórica de 1941, quando as águas chegaram a 4,76 m, e superando com folga a cota de inundação de 3,6 m.

Capital gaúcha ficou vários dias submersa após tempestade recorde no Estado entre o fim de abril e o início de maio de 2024
Capital gaúcha ficou vários dias submersa após tempestade recorde no Estado entre o fim de abril e o início de maio de 2024
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

O sistema antienchente de Porto Alegre é composto por comportas, o Muro da Mauá e diques, que tentam fazer um cerco na cidade para impedir a entrada da água. Há ainda um sistema de bombas para drenar a água da chuva que cai nas ruas.

No pico da crise, porém, comportas e diques se romperam, e apenas quatro das 23 bombas de drenagem estavam funcionando.

A geografia local eleva o risco. Só três metros acima do nível do mar e às margens do Guaíba, que recebe água de cinco rios do Estado (Caí, Taquari, Sinos, Gravataí e Jacuí), a cidade montou nos anos 1970 o sistema para protegê-la da enchente.

Comportas e diques 4u856

As chuvas do ano ado evidenciaram falhas e falta de manutenção do sistema ao longo do tempo. Alguns desses problemas persistem, mesmo um ano depois. É o caso das intercorrências no conjunto de comportas e diques.

Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Dornelles afirma que em um evento de magnitude semelhante ao do ano ado, Porto Alegre estaria novamente em risco. Mesmo para chuvas mais amenas o pesquisador afirma que é preciso estar prevenido.

"Precisa ter um plano emergencial. Se mês que vem acontecer uma cheia, como vamos atuar?", questiona Dornelles. "Temos de saber todos os pontos que estão abertos. A comporta 14, por exemplo: estive lá e não tem estrutura nenhuma. Está totalmente aberta", afirma.

A comporta 14 foi uma das que colapsaram com a força das águas em 2024. O rompimento da estrutura, segundo o professor, foi determinante para inundar a região do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

Em 2024, a cidade tinha 14 comportas. Durante a enchente, algumas estruturas estavam emperradas, ou com trilhos faltando, o que dificultou a operacionalização. Outras comportas foram estouradas pela força da correnteza.

Desde o ano ado, a prefeitura decidiu fechar sete delas. Três já foram lacradas com concreto armado e outras quatro terão o mesmo destino nos próximos meses.

A obra, segundo o Departamento Municipal de Água e Esgoto, vai levar à diminuição de 150 para 45 metros o tamanho total das aberturas no muro de contenção. "O objetivo é reduzir a possibilidade de infiltrações em caso de novas cheias", informa o órgão.

Três comportas serão substituídas e as últimas quatro, reformadas - o que ainda depende de abertura da concorrência pública.

Além das comportas, a rede precisa de adequações. Porto Alegre tem 68 quilômetros de diques externos e internos. As estruturas, no entanto, não foram suficientes para segurar as águas. Os diques atrás da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e no bairro do Sarandi, um dos mais afetados, transbordaram.

Fernando Mainardi Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS afirma que é preciso tampar vãos presentes na estrutura.

"Na Rua Ernesto Neugebauer há trilho de trem que literalmente fura o dique e não tem nenhum tipo de comporta que fecha", exemplifica. "Esses vãos são por onde entra água que inunda áreas próximas ou o próprio aeroporto."

O especialista pondera, no entanto, que o ritmo das contratações públicas, que demandam trâmites burocráticos específicos, impacta.

"Se acontecesse uma cheia exatamente agora, provavelmente os impactos seriam quase todos os mesmos", analisa Fan. "Esperamos que, conforme os projetos avancem nos próximos anos, estejamos de fato protegidos."

Plano de contingência 702o2x

Diretor-presidente do Dmae, Bruno Vanuzzi afirma que medidas estão sendo tomadas para sanar todas as falhas. "Porto Alegre já está melhor preparada do que há cinco, 10 ou 15 anos. O esforço que vem sendo realizado na prevenção contra cheias já nos coloca em patamar bem melhor do que antes da inundação de 2024."

No caso das comportas arrancadas, ele diz que as obras já foram contratadas e em seis meses as estruturas devem começar a funcionar. Ainda conforme Vanuzzi, a prefeitura está elaborando um plano de contingência para funcionar até lá.

"Porto Alegre utilizou em 2024 sistemas que são mais tradicionais, como sacos de areia. Hoje, há alternativas mais modernas, eficientes e muito mais rápidas, como gabiões móveis. Isso é um tema que precisa ser endereçado para que tenhamos esse recurso à disposição da cidade o quanto antes", acrescenta Vanuzzi.

A estrutura de gabião é uma espécie de cesto metálico, como uma gaiola, que pode ser revestido e utilizado em obras de contenção. Segundo o diretor do Dmae, esse modelo poderia ser instalado com maior rapidez.

O plano de contingência prevê que as estruturas temporárias também sejam utilizadas em espaçamentos presentes no sistema de diques.

As obras de reforço previstas já foram iniciadas, mas enfrentam imes. A intenção é elevar, inicialmente, o nível dos diques à cota de 5,8 metros. Estudos estão sendo realizados para viabilizar uma ampliação até 7 metros, como era previsto em projetos desde os anos 1960.

No dique da Fiergs, as obras para elevar a cota devem acabar em maio. Mas no dique do Sarandi, está tudo parado. No local, há 57 famílias que vivem irregularmente perto ou sobre a estrutura. Uma decisão judicial suspendeu intervenções - a prefeitura diz que "novas remoções serão necessárias para as intervenções nos diques da Asa Branca e Vila Dique".

A gestão municipal afirma que, por ora, 32 famílias já aceitaram a demolição de suas casas, mas as demais ainda estão no local. Só a primeira fase de obras no dique do Sarandi foi concluída.

Uma das propostas da prefeitura para destravar a obra é sugerir à Justiça a demolição manual dos imóveis de famílias que já deixaram o local. Assim, ainda que com a presença de remanescentes, as obras poderiam avançar em certos trechos.

"(Os imóveis vazios) podem ser invadidos, podem ruir e a simples presença deles lá impede que a obra avance", afirma Vanuzzi.

Já o Muro da Mauá, erguido no início dos anos 1970 para proteger a área central, tem 2.643 metros de comprimento e seis de altura. Relatório preliminar do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais da UFRGS aponta fissuras, infiltrações e desagregações no local.

Em agosto, a prefeitura iniciou as obras de "correção das patologias identificadas". O Dmae diz que a estimativa é de que os reparos fiquem prontos nas próximas semanas.

Casas de bomba de drenagem 462v3h

Símbolo do colapso de 2024, as casas de bomba de drenagem também am por reestruturação. Hoje, todas as estações estão em funcionamento. A prefeitura contratou geradores para operar em 17 das 23 estações, para que funcionem caso falte energia elétrica.

No ano ado, as bombas não deram conta de drenar a água e algumas estações alagaram. Na ocasião, a inoperância das casas de bomba fez com que o nível da água ficasse mais alto na cidade do que no Guaíba.

Para evitar que isso se repita, as casas de bomba do centro histórico, região mais suscetível à enchente, foram reformadas para construção de "chaminés de equilíbrio", que evitam o avanço do Guaíba a partir da criação de poços. Segundo o DMAE, a obra será concluída nas próximas semanas.

Os prédios das estações de bomba também serão reformados para elevar a altura dos painéis, substituir motores e instalar geradores permanentes. O processo, porém, está à espera do fim da licitação.

O processo para reforma em quatro estações será relançado após a revogação do primeiro edital devido ao fato de as empresas concorrentes não estarem habilitadas. A prefeitura abrirá ainda nova licitação para obras em outras quatro casas de bomba.

Medidas a longo prazo 2n464d

Apesar das iniciativas tomadas a curto prazo pela prefeitura, a professora do Instituto de Geociências da UFRGS Tatiana Silva defende pensar em medidas de longo prazo, que previnam os problemas em todo o Estado.

Segundo ela, o que acontece em um município a montante do rio - ou seja, rio acima - impacta diretamente nos locais rio abaixo. Assim, não é possível cuidar de só um município, sem considerar todo o resto.

"A conexão pelas águas não pode ser ignorada. O que nos falta, acima de tudo, é um projeto estruturante com visão sistêmica e integrada. Sem ele, a recorrência de falhas de planejamento continuará a nos acompanhar", afirma.

Ela destaca que as obras devem levar em conta o custo-benefício para todo o Estado. Uma das obras com impacto em mais de um município será tocada pelo Estado e pela União, com recursos da ordem de R$ 2,5 bilhões.

Os entes serão responsáveis pela construção de sistemas integrados de proteção contra as cheias. Serão quatro: Arroio Feijó - Alvorada, Porto Alegre; Bacia do Sinos;Bacia do Gravataí; e Bacia do Taquari-Antas.

Segundo o governo estadual, o sistema de Arroio Feijó, que inclui Porto Alegre, está na fase de revisão do anteprojeto.

Recursos federais 1q2q5x

Desde o colapso de 2024, o governo federal destinou R$ 111,6 bilhões ao Rio Grande do Sul, incluindo a concessão de benefícios sociais, socorro imediato e outras ações. Antes do desastre, a União havia reado R$ 39,5 milhões ao Estado para estudos e projetos de atualização do sistema anticheia.

Em relação às obras de prevenção, informou ter depositado R$ 6,5 bilhões no Fundo de Apoio à Infraestrutura para Recuperação e Adaptação a Eventos Climáticos Extremos para obras de proteção a enchentes no Estado.

Em dezembro, foi definido que a verba do fundo será usada para construir diques e sete bacias de amortecimento, instalar 19 casas de bomba e outras intervenções. Ao menos nove municípios receberão as obras.

Também é previsto reforço nas redes de proteção da capital e da região metropolitana, como Eldorado do Sul e Alvorada, e nas bacias do Caí, dos Sinos e do Gravataí.

Segundo o governo federal, há esforço para que o Estado e os municípios elaborem um plano de operação e manutenção para a estrutura antienchente, com um "arranjo institucional" responsável pelo custeio. O governo disse que ainda não há definição dos valores necessários, que só serão conhecidos após a conclusão dos projetos.

Estadão
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