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 Foto: Renan Miranda

MC Hariel, um maloqueiro que quer ser melhor 283223

Em entrevista exclusiva para o Visão do Corre, funkeiro manda o papo reto sobre a indústria da música, paternidade e autoestima da quebrada 2u164s

Imagem: Renan Miranda
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20 dez 2023 - 20h00
(atualizado às 20h15)

Hariel Denaro Ribeiro, o MC Hariel, completa 26 anos nesta quarta-feira (20), sendo pelo menos 10 deles em cima dos palcos, fazendo história no funk paulista. Da Vila Aurora, na zona norte de São Paulo, o funkeiro, apelidado de “haridade”, é também um “maloqueiro que quer ser melhor”, como cantou em “Mar de Pirata”, faixa que compõe seu mais recente projeto musical – o EP “Alma Imortal”.  4p6j4v

Pai do pequeno Jorge – e tem mais um filho a caminho –, Hariel propõe uma reflexão madura sobre a verdadeira essência das coisas e como a superficialidade do cotidiano pode influenciar nossas escolhas. O disco traz um experimento que combina ritmos urbanos como trap, boombap e reggaeton, entrelaçados ao flow do funk que o artista sempre incorporou nas composições.

O álbum também pode ser considerado um manifesto de ideias ao explorar outras maneiras de se construir uma obra de funk. “Estava estudando e vi que falta muito conteúdo [no funk], tá ligado? Mas, como posso falar isso sem desrespeitar nem tirar ninguém">Ainda assim, ele acredita ser melhor evitar o sentimento de grandeza. “Inclusive, sou o alicerce de umas 20 pessoas. É complicado. Gosto de acreditar que não sou rico. Não tenho esse cacife que as pessoas imaginam.”

Foto: Renan Miranda | Arte: Carolina Nolasco

Se render aos desejos e luxo 3c3m1x

Pra um jovem de quebrada, sem recursos, os obstáculos pra ascender financeiramente são muitos. Apesar disso, Hariel canta que “a maioria quer mudar de vida sem mudar nunca a essência”. De acordo com ele, nunca se rendeu aos desejos relacionados ao luxo, status. 

  • “Fui um moleque que não pegou nenhuma mala de droga mesmo com todo o o que eu tinha pra isso. Nunca quis roubar ninguém, colocar revólver na cara de ninguém mesmo com todas as facilidades.”

Hariel preferiu outra caminhada. “Estive do lado de amigos que seguiam esse caminho [do crime], nunca julguei. Por isso que coisas relacionadas a dinheiro eram muito distantes pra mim. Porque eu não ganhava dinheiro o suficiente e também não me rendia”, explica. 

“Faço um bico entregando uma pizza, carregando entulho e me viro. Mas não vou ficar fazendo coisa que vai me arrastar pra ganhar um dinheiro e mais pra frente isso pode me atrapalhar três vezes mais. Sempre tive esse pensamento desde novo”, destaca o MC. 

Paternidade 2m6r4j

É o tipo de fita que Hariel aria para seu filho, o Jorge, com um ano de idade –  fruto da relação com a empresária Kaynna Barbaresco. No entanto, é o pequeno Jorge quem mais tem ensinado. 

“Ele tem uma sabedoria que me espanta, uma coragem muito foda também. Não sei se eu era assim, mas eu quero ser igual esse moleque. Ele é muito inteligente, aprende as coisas muito rápido”, comenta, todo orgulhoso. 

E o mais importante: Hariel está aprendendo sobre amor genuíno. "É muito delicado falar sobre amor. A gente ama, mas é um amor cheio de feridas e traumas. Um amor meio cismado. Então é o Jorge que está me ensinando sobre um amor puro, que poucas vezes eu senti na minha vida”, confessa.

Autoestima da quebrada 57255

Ícones do funk, rap e influenciadores das quebradas são referências. Para Hariel, o MC é quase um super-herói nas favelas – ou anti-herói, não é exatamente um exemplo, mas inspira. “São potências que a mídia não respeita”, pontua.

Foto: Renan Miranda | Arte: Carolina Nolasco

“Esse movimento tem criado mais influenciadores, ídolos que refletem na autoestima da quebrada, e não só no funk. Podemos ver os moleques do grau, por exemplo. E isso tem gerado outros sonhos, novas perspectivas de futuro”, diz. 

“Até o funk, de certa forma, acaba sendo exclusivo de uma galera que sabe cantar, sabe rimar ou tem a disposição de fazer uma batida.”

O funk na universidade  431d4f

Em novembro de 2023, o MC esteve pela primeira vez na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para uma aula aberta sobre as raízes filosóficas do funk. “Pensava que faculdade era bagulho de boyzão. Nunca imaginei que eu ia chegar lá e ver gente da quebrada ali”, comenta. 

"Mano, eu nunca tinha entrado em uma faculdade. Sei que tem que mudar muito ainda, mas eu fiquei feliz com o que eu vi. Pensei que nós [da quebrada] íamos ser uma minoria esmagadora. Ainda é a menor parte, mas o suficiente pra mostrar que a gente tá vivo."

Fonte: Visão do Corre
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