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Criador da estética de Alexandre em 'A Viagem' analisa Globo: 'Falta ousadia' 6q1o4p

Em entrevista à CARAS Brasil, produtor cultural Heitor Werneck, criador da estética de Alexandre em 'A Viagem', comenta mudanças nas novelas atuais da Globo 272q4l

29 mai 2025 - 07h05
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Heitor Werneck fala sobre bastidores de 'A Viagem' e analisa TV atual
Heitor Werneck fala sobre bastidores de 'A Viagem' e analisa TV atual
Foto: Reprodução/Globo/Divulgação / Caras Brasil

A Viagem (1994), clássico da dramaturgia da Globo, voltou ao ar no Vale a Pena Ver de Novo e reacendeu o fascínio do público por seus temas espirituais e atmosfera sombria. Mas por trás da estética marcante da novela está o olhar criativo de Heitor Werneck, produtor cultural e estilista que, aos 58 anos, relembra os bastidores da trama e como sua vivência punk ajudou a moldar um dos personagens mais emblemáticos da história: o vilão Alexandre, vivido por Guilherme Fontes. 6rz5o

Com um estilo de vida alternativo desde os anos 90, Werneck sempre levou o universo underground para dentro das produções em que atuou. Em entrevista exclusiva à CARAS Brasil, ele compartilha como transformou experiências pessoais em estética de novela.

"Eu sempre tive muito carinho por todos os trabalhos que fiz. E ter trabalhado junto com a grande figurinista Marília Carneiro e ter a liberdade de criação que tive me traz nostalgia, sim, pois fazer moda, fazer televisão é um exercício de criatividade e experimentações. Sempre fui extremamente acolhido como criador por esta grande [figurista]. Tenho saudade, sim, de participar da criação de personagens", disse ele.

Em quem vilão Alexandre foi inspirado? d636h

O vilão Alexandre ganhou traços marcantes, cabelo descolorido, piercings e visual agressivo, que marcaram época. Mas o que poucos sabem é que a construção visual do personagem foi inspirada diretamente em uma pessoa real: o então namorado de Heitor.

"O Alexandre era baseado no meu então companheiro, que era um rosto angelical, mas que bebia na fonte punk. Guilherme Fontes se parecia muito com ele. Aí ele [Fontes] descoloriu os cabelos, aceitou os brincos e piercings de caveira que foram feitos por uma mulher trans joalheira, Charlotte Maluf, a primeira joalheira trans na Rede Globo, e que de novo a genialidade da Marília Carneiro acolheu", revelou Werneck.

Segundo Heitor, a estética do personagem transcendeu a novela e virou tendência nas ruas, nas arelas e até no samba.

"A estética do piercing, após o Alexandre, personagem de Guilherme Fontes, foi usada e o cabelo semidescolorido se tornaram um símbolo de 'bad boys'. É uma estética visual. Foi uma surpresa ver como as pessoas adaptaram e receberam essa estética. Até cantores de samba fizeram piercing, usaram a caveira como ório de moda e virou logotipo de marcas de roupa", explicou o produtor.

Guilherme Fontes como o vilão Alexandre em 'A Viagem' - Globo
Guilherme Fontes como o vilão Alexandre em 'A Viagem' - Globo
Foto: Caras Brasil

Umbral surgiu de experiência real 1p2h4j

Mais do que ficção, o Umbral retratado em A Viagem nasceu de uma vivência real. Heitor conta que a inspiração veio do tempo em que viveu nas ruas, envolvido com a cultura punk, e que tudo isso foi canalizado para dar vida ao plano espiritual sombrio da novela.

"A construção do Umbrial foi baseada em uma vivência minha como morador de rua e de punk de rua. Sempre achava aquilo uma experiência tortuosa da existência, algo que você tinha que sair ou se afundar. A estética do lixo, a estética dos cabelos era algo que nunca foi mostrado na TV e aquilo é um fato, uma constatação... uma total ruptura de valores estéticos e um modo de vida único. Precisava ser retratado. A Escola de Divinos foi muito inspirada na desconstrução, e essa a estética que sugeri era isto: a desconstrução", declarou.

A TV perdeu sua ousadia visual? 5o1id

Comparando com os dias atuais, Werneck lamenta a perda de experimentação na televisão brasileira. Para ele, há uma falta de coragem para explorar novas estéticas e narrativas visuais.

"Éramos mais lúdicos, a televisão era mais experimental e os diretores menos convencionais, abertos ao novo. Eu sempre levei o underground para novelas em vários personagens. Hoje em dia só há uma estética de favela e [a apresentam] desvalorizando, colocando como marginal e não usando o hip hop, por exemplo, o vogue como expoente de moda. Há uma moralidade, é uma falta de ousadia no figurino atual", analisa.

Ele relembra personagens e novelas marcantes em que ajudou a incluir conceitos inovadores de figurino e estética.

"Vamp, A Viagem, Cara ou Coroa, Olho por Olho, várias novelas sempre contaram com personagens underground ou com conceitos de loja que se destacaram pela atuação e figurino, levando sempre estética de fetiche, BDSM, couro, clubber. São novos estilos, fazendo virar tendência, por exemplo. Vilminha, que era feita pela Paloma Duarte no remake de Pecado Capital, em que ela era clubber. Sempre levei o underground para a TV de forma artística e sempre virou moda e tendência", declara.

O que move Heitor Werneck hoje? 692521

Atualmente, Werneck continua a expandir seu legado criativo. Ele é responsável pela produção artística da Parada LGBTQIAP+ em São Paulo e em outros estados, onde segue promovendo diversidade, desconstrução de gênero e inclusão social.

"Eu ultimamente sou produtor artístico da Parada de SP e de outras regiões. Levo sempre periferia, corpos plus size, travestis, movimentos periféricos, como vogue, slam e hip hop. Uso a desconstrução de gênero em tudo. Uso a etaridade e a beleza dela. Uso a sustentabilidade que a marca Escola de Divinos promove desde os anos 80. Uso a estética fetichista e o punk, que é a fonte em que bebo. Exploro a sexualidade e sua forma de vestir. Eu coloco ainda o universo underground como pauta em todas as produções, principalmente a estética da rua. E os moradores de rua, com quem faço trabalho social. Todos são fontes de inspiração para roupas", finaliza.

Heitor Werneck - Divulgação
Heitor Werneck - Divulgação
Foto: Caras Brasil

Quem é Heitor Werneck? 3d5c42

Além de estilista e produtor cultural, Heitor Werneck é uma referência quando o assunto é inclusão e representatividade. Autista, atua como consultor de figurino em produções da HBO, Netflix e Globo, e realiza ações sociais voltadas para a comunidade LGBTQIAP+, em parceria com ONGs, empresas e órgãos públicos. É também idealizador do Projeto Luxúria, a primeira festa liberal do Brasil, e um dos pioneiros na introdução da estética fetichista no país.

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