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Antiparasitário de uso veterinário não tem comprovação científica para tratar câncer 5p5046

FENBENDAZOL SEQUER É REGULAMENTADO PARA USO EM HUMANOS; ESPECIALISTAS ALERTAM QUE SUBSTÂNCIA PRECISA SER MAIS ESTUDADA 101p2j

30 mai 2025 - 17h26
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O que estão compartilhando: vídeo em que um médico cita três estudos de caso de pacientes com câncer que entraram em remissão total ao serem tratados com fenbendazol, um antiparasitário usado em animais. "Não foi uma nova quimioterapia. Não foi uma imunoterapia de última geração. Foi fenbendazol", afirma. 2q574y

Cientistas afirmam que uma suposta atuação do fenbendazol em células cancerígenas precisa ser mais estudada.
Cientistas afirmam que uma suposta atuação do fenbendazol em células cancerígenas precisa ser mais estudada.
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso, porque o próprio documento que relata os casos de tratamento com fenbendazol afirma que são necessárias mais pesquisas para definir se o medicamento pode ser uma opção quimioterápica. Os cientistas não garantem que a substância é eficaz no tratamento do câncer.

Além disso, o fenbendazol não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A entidade afirma que não existe avaliação de eficácia e segurança para o uso da substância em humanos. No Brasil, o medicamento é registrado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para uso em animais.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam ser perigoso ingerir medicamento sem aprovação de uso em humanos e acrescentam que a substância ainda precisa ser mais estudada.

O Verifica procurou o médico José Nasser, autor do post, mas não teve resposta até a publicação da checagem.

Saiba mais: em um vídeo publicado no Instagram, o médico cita que três pacientes com câncer terminal e incurável entraram em remissão total ao serem tratados com o "composto milagroso" fenbendazol. Conforme ele, a série de casos apresentada pela Universidade de Stanford foi "silenciosamente engavetada" longe do público.

Ao analisar os comentários da publicação que viralizou, é possível notar que pessoas se interessam em consumir o medicamento, fazendo perguntas sobre posologia e onde encontrar o remédio.

Uma usuária, por exemplo, pergunta "como tomar o fenbendazol e com quais suplementos". Um homem questiona se pode encontrar fenbendazol em farmácias e recebe a resposta, de outra pessoa, de que ele pode comprá-lo em casas de produtos veterinários. Uma mulher sugere que o medicamento seja utilizado como prevenção ao câncer e pede ao médico que divulgue a posologia.

Em casos mais preocupantes, usuários afirmam que já estão consumindo a substância como tratamento para câncer, mesmo sem aprovação para uso em humanos.

Uma mulher diz que tratou "sarcoma na panturrilha e metástases incontáveis no pulmão" com óleo de copaíba, babosa e "remédio de uso canino e bovino". Outra compartilha que está tomando um "protocolo" que inclui ivomec (outro antiparasitário de uso veterinário) e fenbendazol, e que pretende mantê-lo por seis meses.

A publicação foi apagada do Instagram do médico, mas o vídeo segue sendo compartilhado por outras contas e em outras redes sociais, como Facebook e X (antigo Twitter).

O que dizem os pesquisadores de Stanford

Os exemplos citados na publicação foram publicados em 2021, no artigo Fenbendazol potencializando o efeito antitumoral: uma série de casos, na revista Clinical Oncology Case Reports, por quatro pesquisadores ligados à Universidade de Stanford e um à Universidade de Washington, ambas nos Estados Unidos. Apesar de o médico afirmar que a pesquisa está sendo escondida do público, o o ao documento é livre.

Conforme os autores, três pacientes avaliados tinham "neoplasias malignas geniturinárias", ou seja, tumores cancerígenos que se desenvolvem nos órgãos do sistema geniturinário, que integra os sistemas urinário e reprodutor.

Em dois casos, dizem, os pacientes apresentaram progressão da doença metastática, apesar de terem recebido várias linhas de terapia antes do início do tratamento com o medicamento veterinário. Após o uso do fenbendazol, afirmam, os pacientes obtiveram respostas completas.

O artigo não afirma que o medicamento é indicado para o tratamento do câncer. Os autores sugerem, a partir dos resultados observados, que ele "parece ser potencialmente seguro e eficaz" e que pode ser reaproveitado para uso humano contra os tumores nos sistemas urinário e reprodutor.

Eles acrescentam que mais pesquisas são necessárias para definir o papel do fenbendazol como uma opção quimioterápica. Os cientistas destacam que dados sobre as propriedades contra o câncer do fenbendazol são limitados e que há poucos estudos publicados.

O artigo não deixa claro como os casos foram coletados ou por quanto tempo os pacientes foram acompanhados. O Verifica enviou e-mail para dois dos autores solicitando mais detalhes, mas não teve retorno.

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O que mais se sabe sobre o fenbendazol e o câncer?

O fenbendazol se popularizou nas redes sociais como uma "alternativa" no tratamento de câncer após o ator Mel Gibson afirmar que amigos dele teriam sido curados da doença utilizando a substância, o que não foi comprovado.

Estudos sugerem que o medicamento demonstrou potencial anticancerígeno em estudos laboratoriais e alguns ensaios clínicos iniciais, mas não são conclusivos sobre a eficácia e a segurança para uso humano.

Uma revisão de artigos, publicada em 2020, analisou que medicamentos da classe fenbendazol podem ter efeito contra células cancerígenas. Mas esses efeitos foram observados em linhagens celulares cancerígenas in vitro (em laboratório) e em modelos tumorais animais in vivo. Os autores observaram que ainda não há dados suficientes para demonstrar a disponibilidade para tratar cânceres humanos.

Eles concluem que ensaios clínicos em andamento poderão esclarecer o assunto em um futuro próximo. Enquanto isso, é preciso determinar se os medicamentos de uso veterinário podem ser usados em humanos.

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Especialistas concordam que fenbendazol ainda precisa ser estudado

Conforme Andreia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Nacional de Câncer (Inca), não existem estudos clínicos de fase III com a substância. Esse tipo de pesquisa envolve grandes grupos de pacientes e mostra a eficácia de uma intervenção em comparação com o tratamento considerado padrão para determinada condição clínica.

A pesquisadora informou que não existe qualquer recomendação ou aprovação regulatória para uso do fenbendazol no tratamento de qualquer câncer.

Ela destacou o risco de utilizar o remédio sem essa autorização, já que toda medicação apresenta efeitos adversos. Segundo ela, combinar medicações pode potencializar tais efeitos e, inclusive, comprometer a eficácia dos tratamentos com comprovação científica para tratar o câncer. "O paciente com câncer deve seguir as recomendações de seu oncologista", disse.

Andreia lembra, ainda, que não há "tratamento milagroso" para qualquer tipo de câncer. "Todas as intervenções médicas seguem um padrão rigoroso de desenvolvimento clínico até serem aprovadas para uso".

Maurício Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), afirma que são precisos mais estudos para responder definitivamente o quanto essa droga pode ser responsiva a algum tipo de tumor.

Ele explica que são necessárias pesquisas em que os participantes são distribuídos aleatoriamente em grupos onde parte recebe a droga testada e o restante o tratamento padrão. Os grupos devem ser acompanhados durante períodos prolongados, meses ou anos. São os chamados estudos prospectivos randomizados.

"É de extrema importância estudos prospectivos randomizados avaliando o número de pacientes muito grande e avaliando as taxas de respostas para a gente poder realmente saber se existe ou não uma eficiência dessa droga para o tratamento adequado dos pacientes", declarou.

Estadão
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