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O que é “neomarginal”? Termo levou à exclusão de escritora de festival literário 19736h

Camila Panizzi Luz ironizou a expressão no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), em Minas Gerais 4u5p6i

5 mai 2025 - 13h50
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Resumo
Tradição de escritores e escritoras da periferia começa há 130 anos, com Lima Barreto. O termo "literatura marginal" ou "geração mimeógrafo" se populariou durante a Ditadura, ficou relativamente esquecido, até o início dos anos 2000 quando três edições em revista revitalizaram a produção, hoje fortíssima nas quebradas do Brasil.
O escritor Wesley Barbosa na Flipoços, em Poços de Caldas (MG), onde foi ironizado ao usar o termo “neomarginal”.
O escritor Wesley Barbosa na Flipoços, em Poços de Caldas (MG), onde foi ironizado ao usar o termo “neomarginal”.
Foto: Matheus Soares

A ironia que a escritora Camila Panizzi Luz fez ao termo “neomarginal”, associando seus autores a criminosos – “nunca fui presa”, disse ela – ofende uma linhagem importantíssima da literatura brasileira, que começa há uns 130 anos, com o grande Lima Barreto, preto e marginalizado social no Rio de Janeiro. 1d391w

A fala polêmica direcionada ao escritor preto e periférico Wesley Barbosa foi proferida no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços). Pegou mal. A Flipoços excluiu Luz do evento, seus livros foram retirados e as atividades programas com ela, suspensas.

Embora o termo “marginal” tenha surgido entre os anos 60 e 70, também associado ao jornalismo, atualmente, quem escreve a partir da periferia, reivindica uma descendência histórica que tem autores e autoras-chave.

Lima Barreto, primeiro autor negro e periférico a estar entre os grandes da ficção nacional, crescentemente reconhecido após sua morte.
Lima Barreto, primeiro autor negro e periférico a estar entre os grandes da ficção nacional, crescentemente reconhecido após sua morte.
Foto:

João Antônio, literato e jornalista, estourou nos anos 60. Ele não cansava de apontar Lima Barreto como precursor, a quem escreveu respeitosíssimas dedicatórias em todos os seus livros, fazendo questão de reproduzir o nome completo do escritor dos subúrbios cariocas: Afonso Henriques de Lima Barreto.

Lima Barreto, marginal, não usou esse nome, nem seus críticos 6e144r

Lima Barreto não se autointitulou marginal, não foi nomeado como marginal pelos pares ou críticos literários do início do século 20, embora muitos o vissem – e ele mesmo se enxergava – à margem da onda literária, da vida social, da imprensa, da sanidade, do centro da cidade etc.

Durante a Ditadura, escritoras e escritores reproduziram seus livros em mimeógrafos, equipamento manual que utiliza papel carbono e álcool para fazer cópias. Surgiam os marginais da “geração mimeógrafo”, que criaram sua própria mídia, como Ana Cristina César, Chacal, Paulo Leminski, Plínio Marcos, entre outros.

Carolina Marina de Jesus atuou sozinha, embora tenha produzido na mesma época da chamada “geração mimeógrafo” ou “marginal”.
Carolina Marina de Jesus atuou sozinha, embora tenha produzido na mesma época da chamada “geração mimeógrafo” ou “marginal”.
Foto: Divulgação

Sem ter o sequer ao mimeógrafo e sem relações com os outros escritores (que também usavam xerox), Carolina Maria de Jesus escrevia obras-primas da literatura marginal manualmente, em cadernos encontrados no lixo. Atualmente, é tida, com justiça, como precursora feminina dessa literatura marginal.

Dos anos 2000 para cá, incluindo Wesley Barbosa 8l3x

Veio a Anistia, Collor, Fernando Henrique, Racionais MCs, a cultura hip hop e com ela seu rebento literário. Uma marca histórica são as três edições especiais de literatura marginal (2000, 2002 e 2004) publicadas pela extinta revista Caros Amigos, organizadas por Ferréz, do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

Essas coletâneas pam na praça novos autores e abriram um vasto horizonte literário, pipocando em saraus, slams, editoras, com nomes de vulto como o carioca Paulo Lins e o próprio Ferréz, que inclusive publicou o primeiro livro de Wesley Barbosa, pela editora Selo Povo. Tem gente da safra ganhando Jabuti, com obras adaptadas para o audiovisual, revitalizando a literatura e o cinema.

Dinha, autora de poesia e prosa, editora e pós-doutora pela Universidade de São Paulo (USP), do Coletivo Poder e Revolução,
Dinha, autora de poesia e prosa, editora e pós-doutora pela Universidade de São Paulo (USP), do Coletivo Poder e Revolução,
Foto: Marcio Salata

Nas universidades, pipocam estudos e despontam pesquisadores oriundos das periferias, como Erica Peçanha e Dinha (Maria Nilda de Carvalho Mota), também escritora. É a face acadêmica da nova literatura marginal, ou “neomarginal”. Sobre esse termo, há um caminhão de desinformação, a começar pelo fato de que ele não costuma nomear a produção literária das quebradas.

“Neomarginal” é o nome de um grupo de escritores da nova safra literária das periferias, mas não é a expressão mais usada para se referir à produção contemporânea das quebradas. Em geral, ela é chamada de “literatura marginal” ou “literatura periférica”.

Fonte: Visão do Corre
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