Ainda Estou Aqui não tinha que abordar Ditadura na periferia j1557
Vencedor do Oscar foi acusado de não mostrar a repressão militar nas quebradas, mas o filme não é sobre isso 1h6l4w
Longa do diretor Walter Salles venceu o Oscar de melhor filme internacional e escapou de uma polêmica sem sentido. Críticos da obra desconsideram a preocupação social de Rubens Paiva e da esposa, reconhecida por lutar pela causa indígena.
Na moral? Não teve absolutamente nenhum sentido acusar o filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de melhor filme internacional, de não mostrar a Ditadura brasileira nas periferias. Ele não é sobre isso. Mas a pandemia opinativa, agravada pela polarização política, é uma permanente viagem errada pelo universo infinito das opiniões sem sentido. 6y4r7
A acusação direta e mesmo a sugestão malandra de que poderia ter mostrado a periferia vai na linha da polêmica fácil, rasa, bobinha, pretensamente inteligente. É como se o filme Carandiru tivesse que retratar as dificuldades dos ricos no sistema carcerário.
Ainda Estou Aqui é sobre uma família de classe média alta, que mora em uma casa enorme, confortável, perto da praia, com cinco filhos bem cuidados, telefone, carro na garagem, empregada.
É sobre Rubens Paiva, engenheiro e político, morto pelo regime militar, e sua família, especialmente a esposa, leoa guerreira interpretada por Fernanda Torres. Aliás, é um filme sobre como a esposa e depois advogada Eunice Paiva resistiu ao desaparecimento do marido, e seguiu em frente.
É um filme feito por um diretor gato, talentoso, de família composta por banqueiro, embaixador e embaixatriz, criado entre ricos com nomes e sobrenomes enormes, cheios de letras dobradas e consoantes pouco encontradas em RGs de pobre.
A acusação é injusta com a trajetória da família, a começar por Rubens Paiva. Seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, sabatinado no programa Roda Viva, da TV Cultura, foi questionado sobre o filme ser um olhar da elite branca.
Lembrou que o pai, com 32 anos, lutou por reformas em favor de negros, vulneráveis, pobres. Poderia ter citado que projetou e conseguiu recursos para a construção de um conjunto habitacional para moradores de baixa renda na Pavuna, periferia da zona norte do Rio de Janeiro.
Existe uma estação de metrô com seu nome na região. Em 2014, quando pam um busto de Rubens Paiva no local, sua filha, Vera Paiva, contou que o pai “trazia a gente para ver a construção, mostrava como as casas eram boas e como o povo brasileiro merecia moradia decente”.
Eunice Paiva, esposa que lutou contra o regime militar corajosa e incansavelmente, foi uma importante militante da causa indígena. Toda vez que o filme é celebrado, reverbera no fundo da floresta.
As piores críticas são sobre aquilo que as obras não pretendiam ser. Comentadores reivindicantes deveriam arrumar coisa melhor para fazer. Talvez um filme sobre a ditadura militar nas periferias brasileiras.