Belém realizou duas COPs periféricas e fará a terceira antes da COP 30 205f4g
Articulação é de ativistas das baixadas. Primeira edição antecedeu escolha da capital paraense como sede da COP 30 5c3d48
Ativistas de Belém (PA) organizaram duas edições da COP das Baixadas para debater questões climáticas em áreas periféricas. A terceira edição, que será realizada no próximo mês de junho, discutirá o tipo de relação a ser estabelecida, em novembro, com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30.
Engana-se quem pensa que a COP 30, em novembro, vai inaugurar os debates climáticos em Belém (PA). Ativistas locais realizaram duas conferências sobre meio ambiente, em 2023 e 2024, e realizarão a terceira COP das Baixadas em junho – o nome faz referência ao evento oficial e às áreas periféricas da capital paraense. t48l
As baixadas são diversas: incluem ilhas; regiões secas da cidade, margeados ou não por rios e igarapés; têm casas de alvenaria e madeira, com palafitas predominando em algumas áreas. A escolha do nome COP das Baixadas demarca a origem dos ativistas e seu principal interesse: as questões climáticas em áreas periféricas.
Um dos envolvidos na iniciativa é Jean Ferreira da Silva, 30 anos, engenheiro cartográfico. Ele conta que a percepção sobre a necessidade de organizar as baixadas para enfrentamento dos problemas climáticos ficou ainda mais urgente após ter participado da COP 27, no Egito, em 2022.
“Apesar de importante, percebi que a COP era muito excludente, muito difícil a sociedade civil ter lugar de fala, tem pouca gente para escutar, então por que queremos estar num lugar onde a gente não é escutado? Decidimos: vamos fazer nossa própria COP.”
Primeira COP das Baixadas foi realizada no Jurunas 1e4b5o
“Não consegui ver a COP do Egito como uma esperança”, diz Silva. “Mostrou para mim que precisava ser urgente qualquer movimento que acelerasse as periferias a falarem de clima, entenderem que era importante. A primeira edição da COP das Baixadas teve muito esse tom de letramento”.
Realizada com R$ 20 mil reais de um edital, a primeira COP das Baixadas, em fevereiro de 2023, aconteceu durante três dias, centralizada no Gueto Hub, núcleo comunitário e cultural no Jurunas.
“Jurunas é um bairro com conexões muitos fortes: é um nome de etnia indígena, formado por população pobre, preta, marginalizada, empurrada para as beiras”, descreve Matheus Botelho, 28 anos, jornalista e membro da Associação Cultural Na Cuia.
Andrew Leal, 27 anos, arquiteto e urbanista idealizador do Observatório das Baixadas, resume o sentimento que move a mobilização: “A academia e o poder público têm as periferias como objeto. A gente não acredita nessa perspectiva; a gente vive, cresce e se entende como ser humano dentro da comunidade. A gente sabe que tem conhecimento.”
Segunda COP das Baixadas reuniu 16 organizações 666560
A segunda COP das Baixadas, em março de 2024, maior e mais estruturada, reuniu 16 organizações. Foi realizada na Ilha de Caratateua. “É uma ilha especialmente periférica, com contrastes muito grandes: tem condomínios de alto luxo, marinas, baixadas, comunidades pouco assistidas”, descreve Botelho.
Para Silva, “a inteligência coletiva andou” com a realização da segunda COP das Baixadas. Um dos resultados foi a criação das Yellow Zones, que aglutinam comunidades em torno do debate climático. Incluem indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, organizações comunitárias.
As Yellow Zones serão um dos pilares da próxima COP das Baixadas, a terceira, em junho, além da atuação do Observatório das Baixadas, que realiza pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. “O Observatório é uma resposta das comunidades que lutaram para as gerações terem mais oportunidade que as gerações adas”, resume Leal, também ligado à rede PerifaConnection.
“A gente entende que as baixadas são as regiões mais suscetíveis. São as comunidades mais vulneráveis. São a elas que precisamos dar uma atenção maior”, explica Leal.